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Laços de ternura
Por Dr. Leonardo Posternak
* em 24/11/2000
Está mais do que comprovado: amamentar é bom para a mãe e para o bebê. Esse simples ato de amor protege a saúde do novo membro da família e estabelece uma relação extremamente afetuosa entre mãe e filho.
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Estudos mostram que o bebê não precisa de nenhum outro alimento além do leite materno até os 6 meses de vida. Completíssimo, é garantia de uma dieta equilibrada e rica em nutrientes. Médicos aconselham a amamentação como complemento, se possível, pelo menos até o final do primeiro ano de vida.
Amamentar é bom
Para a mãe
Durante a amamentação, o organismo produz ocitocina, uma substância que evita a hemorragia uterina pós-parto, estimula a contração do útero e o ajuda a voltar mais rapidamente ao normal.
Pesquisas indicam que a incidência de câncer é menor entre as mulheres que amamentam.
Como a produção de leite é um processo que demanda o consumo de muita energia (cerca de 500 a 700 calorias diárias), as gordurinhas acumuladas durante a gestação são queimadas rapidamente. Resultado: a mãe emagrece e o corpo recupera a velha forma em menos tempo.
Para o bebê
O leite materno é um alimento produzido pela mãe para o bebê, por isso raramente causa alergia. O mesmo não ocorre com a introdução prematura do leite de vaca, que contém proteínas estranhas ao organismo humano.
Protege o bebê contra um grande número de infecções, já que ele recebe os anticorpos (organismos de defesa) da mãe. Possui, ainda, várias substâncias protetoras que defendem as mucosas do pulmão e do intestino contra bactérias e fungos.
É de fácil digestão e contém toda a água de que os recém-nascidos precisam. Já vem na temperatura ideal. Possui todos os nutrientes que o bebê necessita.
Para ambos
A amamentação facilita o contato e fortalece os vínculos entre mamãe e bebê.
As primeiras mamadas
Comece a amamentar assim que você estiver disposta, o que pode acontecer na própria mesa do parto ou logo em seguida. Isso estimula a descida mais rápida do leite e evita a hemorragia uterina no pós-parto. Além do mais, a sucção do bico do seio estimula a contração do útero. Mas não se sinta culpada se isso não for possível. Às vezes o parto é difícil e cansativo e você termina esgotada. Ou ainda existem dores e o desconforto de quem acabou de passar por uma cesariana.
O leite vai descer entre dois e quatro dias após o parto. Não vai custar muito a você perceber o fato, pois os seios aumentam de tamanho, ficam doloridos e pode surgir uma febre bem baixa.
Bebês que mamam no peito choram mais e parecem estar sempre famintos. Mas não é preciso ficar preocupada com isso: o choro é uma reação normal do recém-nascido, que, com fome, chora e busca com mais vontade o peito da mãe.
As mamadas no dia-a-dia
É natural que as mães tenham dúvidas logo após o nascimento do bebê. Tudo é novidade em sua vida. Mas com um pouco de paciência, amor e jeitinho tudo se resolve. Confira:
É você quem deve decidir qual a melhor posição para amamentar. Aos poucos, o bebê vai se adaptando ao seu jeito.
Não tente obrigar o bebê a mamar forçando o mamilo em sua boca. O ideal é estimulá-lo com o próprio bico do peito despertando o reflexo de procura.
Para aumentar o comprimento do mamilo, segure o bico do seio entre o segundo e o terceiro dedo. Isso permite que o bebê encaixe seus lábios em volta da aréola e não apenas no mamilo. Além de facilitar a mamada, melhora a sucção e mantém seu nariz distante do seio.
Deixe o nariz do bebê afastado do seio para que ele mame com tranqüilidade. Assim, ele poderá respirar com calma enquanto suga e não engolirá ar, o que provoca gases e dores de barriga.
Se for preciso interromper a mamada, coloque o dedo mindinho no canto da boca de seu filho em vez de forçar a saída do bico do seio. Isso evita dor e rachadura nos mamilos.
O sucesso da amamentação também depende de uma boa drenagem. Depois de cada mamada, procure esvaziar os seios. Isso contribui para que eles não fiquem empedrados.
A cada mamada, sempre ofereça os dois seios. Isso é importante para que a produção e a descida do leite sejam uniformes nos dois seios.
Em geral, o recém-nascido mama em intervalos de duas (mínimo) a cinco (máximo) horas, de cinco a dez minutos no primeiro seio e à vontade no segundo. Mas essa não é uma regra rígida! O bebê mama o quanto precisa e não o que os adultos acham que ele deve mamar.
Para crescer saudável, a criança deve mamar pelo menos até os 6 meses.
Alimente-se de forma equilibrada e variada para repor as calorias gastas com a amamentação. Também beba muita água: antes, durante e depois da amamentação. Ela é fundamental para ajudar na fabricação do leite.
Como os seios produzem leite
Saber como o organismo funciona é tornar conhecido o desconhecido. É também um bom caminho para derrubar mitos, aumentar a segurança e as chances de sucesso na hora de amamentar.
Quando a mulher está perto de ter bebê, pequenos canais brotam dos alvéolos, grupo de células localizado nas glândulas mamárias. É através desses canaizinhos que o leite vai passar.
Logo após o parto, os seios produzem o colostro, um líquido amarelado rico em proteínas e anticorpos que vai proteger o bebê de infecções.
Entre o segundo e o quarto dia, os seios começam a produzir leite.
Esse processo está intimamente ligado à amamentação. Isso acontece porque cada vez que o bebê suga ele estimula a produção e a liberação de dois hormônios produzidos pela glândula hipófise da mãe: a prolactina e a ocitocina. Em conjunto, eles produzem um fenômeno conhecido como reflexo de liberação, que faz o leite descer.
Dor e rachadura nos mamilos
A maioria das mães de primeira viagem sente algum desconforto nos mamilos nos primeiros dias. Isso geralmente melhora sem tratamento especial, mas existem algumas maneiras para diminuir o incômodo.
Verifique se o bebê está pegando o bico de forma adequada. Sua boquinha deve conter toda a aréola e não só o bico.
Procure não deixar os seios cheios demais.
Entre as mamadas, mantenha os bicos sempre secos.
Se for necessário, faça massagens com um creme à base de lanolina no bico e na aréola. Mas não se esqueça de limpar bem a região na hora de dar de mamar.
Consulte seu médico imediatamente caso os seios fiquem doloridos demais, com manchas vermelhas, surja febre ou os bicos rachem.
Seios empedrados
Como o recém-nascido é muito pequenininho, geralmente ele suga pouco e já fica de barriga cheia. Resultado: os seios ficam intumescidos e doloridos. Após os primeiros dias, a situação tende a melhorar e a oferta e a demanda se estabilizam. Se isso não acontecer e a mãe continuar a produzir mais leite do que o bebê consegue mamar, ela fica desconfortável e ele frustrado porque não consegue pegar o bico.
Para minimizar o problema:
Encoraje o bebê a mamar mais vezes.
Se os seios estiverem muito duros, retire um pouco de leite antes de cada mamada.
Se for muito cedo para o bebê mamar ou ele estiver com pouca fome, retire um pouco de leite com as mãos ou com bombinhas apropriadas para isso.
Evite banhos muito quentes, que estimulam a produção de leite.
Mitos e verdades
Não existe leite fraco. A quantidade é que pode não ser suficiente para o bebê.
Os seios da mulher que amamenta não caem após a amamentação. Para mantê-los sempre firmes, alguns cuidados são fundamentais: escolha um sutiã reforçado, mantenha a pele da região sempre hidratada e faça exercícios para o fortalecimento dos peitorais.
Não se desespere! Seu filhote não vai morrer de fome se não quiser ou não conseguir mamar nas primeiras tentativas após o nascimento. Como ele nasce com excesso de peso e líquidos, pode ficar de 24 a 36 horas sem se alimentar.
Quem amamenta deve ficar longe de chocolate, cebola e pratos muito condimentados. Esses alimentos mudam o sabor do leite ou podem provocar cólica.
Leite e cia.
Ok, o leite materno é o melhor alimento para o recém-nascido. Mas, apesar disso, nem sempre as mães podem ou conseguem amamentar seus filhotes. Além disso, há bebês que mamam no peito e ainda requerem suplementação.
Nesses casos, o melhor caminho é a introdução da mamadeira, que deve ser feita sob a supervisão do pediatra.
Os tipos de leite
Existem diferentes tipos de leite para cada fase do bebê. Eles são formulados em pó e enriquecidos com vitaminas e sais minerais. Hoje em dia, muitos pediatras já indicam o leite integral (aquele da padaria) como substituto ou complemento à amamentação para crianças que estão se desenvolvendo normalmente.
BAlguns especialistas ainda preferem o leite em pó, pois existe maior controle bacteriológico do que nos in natura. Muitas vezes, podem ocorrer mudanças no funcionamento intestinal, como diarréias constantes, o que pode sinalizar alergia ou intolerância à lactose, tipo de proteína encontrada no leite. Caso isso ocorra, procure o pediatra para que ele indique produtos alternativos à base de soja ou com baixo teor de lactose.
Mamadeiras
Apesar de muito fáceis de fazer, as mamadeiras devem ser sempre preparadas de acordo com a orientação do pediatra.
Para ter certeza de que seu bebê vai ficar completamente saciado, é bom que sempre sobre um restinho na mamadeira. Se na última mamada o bebê tomou 90 ml, a próxima deverá conter 120 ml.
Como preparar
Sempre use água fervida para preparar o leite. Depois de preparado, ele deve ser guardado nas próprias mamadeiras e deixado na geladeira por no máximo 12 horas. No congelador pode ficar armazenado por até três dias. Na hora de aquecer, o microondas está liberado. A temperatura deve ficar entre 36o e 37oC. O tempo de aquecimento dependerá de seu micro.
Como esterilizar
Prefira sempre mamadeiras cilíndricas e transparentes, que são mais fáceis de limpar. Como os micróbios se multiplicam com muita facilidade nas sobras de leite, lave e esterilize cuidadosamente a mamadeira sempre que ela for utilizada.
Você não pode amamentar?
Se por alguma razão você não puder amamentar, não fique triste. Existem pequenos gestos que fortalecem os laços entre você e seu bebê e podem até "simular" a verdadeira mamada no peito. Não tendo leite suficiente para oferecer a seu filho, uma mãe não pensou duas vezes em colocar seu bebê na mesma posição em que oferecia o peito antes da mamadeira. Ela abriu a blusa, apoiou a mamadeira no seio e propiciou para ambos um bom contato pele com pele e olho com olho. O resultado foi extremamente gratificante para os dois. Como esta mãe, há no máximo 1% de mulheres que não conseguem produzir leite. Se esse é seu caso, não há razão para sentir-se menos mãe ou mulher. Afinal, amamentar não é a única maneira de oferecer amor ao bebê, demonstrar esse amor ou ser uma boa mãe.
* Dr. Leonardo Posternak é médico pediatra,
membro do Departamento de Pediatria do Hospital Israelita Albert Einstein.
Co-autor do livro
E Agora, o que Fazer? A Difícil Arte de Criar os Filhos, Editora Best Seller.
Autor de
O Direito a Verdade - Cartas Para Uma Criança, Editora Globo.